A dor do parto desde muito cedo permeia o nosso imaginário: na televisão, no cinema… não são poucas as vezes em que assistimos à experiências dolorosas relacionadas ao parir. Mas, afinal, como é essa dor? Vale a pena passar por isso? Será que eu aguento? Será que esse negócio de parto normal não é loucura????
E então engravidamos, estudamos, descobrimos que sim, esse negócio de parto normal é o melhor para a saúde da mãe e do bebê, e então, por mais que estejamos bem amparadas de informação e cientes das nossas escolhas, passamos boa parte da gestação temendo o tal momento das contrações dolorosas e do parto (ui).
Pode ser que o trabalho de parto aconteça devagar, como quem não quer nada, e aos poucos o corpo vá se adaptando e tudo vá mudando, até que o parto aconteça de forma suave (…). Pode ser também que esse processo chegue de forma rápida e intensa. Quem sabe como será? Nossa única certeza é que o momento do parto chegará e que, sim, vai doer, porque parir dói!
A questão é que a dor é bastante relativa e difere muito de uma mulher para outra. Uma coisa que eu costumo dizer é que a dor do parto é uma dor que não fere, que não mata: é uma dor de vida, que abre passagem para transpor um portal.
A partir do momento que aceitamos e entendemos que essa dor é parte do trabalho de parto, do movimento necessário para que o corpo execute o seu trabalho, o processo passa a acontecer de forma mais fluída.
Então ok, sabemos que a dor chegará e então, o que fazemos? Quando esse momento acontecer, o ideal é que busquemos um ponto de conforto. Cada mulher vai descobrir a forma que funciona melhor pra ela: pode ser o chuveiro quente, a imersão na água quente, uma massagem, a adoção da posição de cócoras, de quatro apoios, deitada (…) ou ainda um movimento como uma dança, por exemplo. Para algumas mulheres algumas palavras de conforto e apoio podem ajudar, em outros casos esse auxílio pode vir em forma de uma analgesia medicamentosa.
Enfim, não importa qual maneira a mulher escolherá para ajudar a relaxar durante as contrações, o importante é que alternativas sejam oferecidas e aplicadas para que mãe e bebê tenham uma experiência positiva deste momento. As contrações são como ondas do mar, elas vêm e vão, e quando aceitamos essa dor, conseguimos relaxar e sentir menos desconforto e incômodo. Do contrário, se brigamos com esse processo, enrijecemos os músculos do nosso corpo, tornando a experiência mais difícil.
O que fazer para se preparar para o parto:
• Procure um curso de preparação para o parto com foco no nascimento via vaginal. Saber o passo a passo de como acontece o parto pode ajudar a ter mais segurança quando tudo estiver acontecendo.
• Faça um plano de parto onde esteja descrito o que você deseja e o que não quer (massagem, banhos quentes, compressas, apertos no quadril, apoio emocional…). Aqui vale um adendo especial para a questão da analgesia: escreva se você quer ou que se pedir analgesia a equipe pode negar, para isso, combine uma senha com a equipe que significa “não dou mais conta e quero analgesia sim”, ou até, “se eu pedir analgesia não me negue, é porque eu preciso”).
• Se preparem mentalmente para esse momento. Há diversas técnicas disponíveis que podem ajudar nesse processo, como a prática de mindfulness, hipnose e o método GentleBirth.
• Busque uma doula e, se possível, conte com uma equipe humanizada.
Karina Fernandes Trevisan é Parteira formada em enfermagem obstétrica pela Unifesp, mestre em saúde materno infantil e doutora em cuidados em saúde, ambas pela USP. Desde 2007 atua no atendimento a parto domiciliar e hospitalar, englobando pré natal, parto e pós parto