Ao longo do meu trabalho com gestantes é interessante ver como vem crescendo o número de casais que buscam partos humanizados. Alguns chegam já convictos do que buscam e outros aos poucos vão construindo o conhecimento, ganhando confiança e tomando sua decisão.
É muito bonito ver o percurso de cada casal, conhecer suas histórias e acompanhar a busca pela concretização de algo que acreditam ser o melhor para sua família. É normal que construam a imagem do parto desejado, que criem expectativas, enfim, que sonhem o parto tão almejado. Porém, ao longo desta jornada, observamos que alguns casais ou algumas mulheres perdem de vista o objetivo final da gestação que é o nascimento saudável e seguro do bebê. Percebemos isto quando o parto realizado se torna mais importante do que o bem estar da dupla mãe-bebê.
É fundamental oferecer a toda família um parto respeitoso e humanizado, mesmo que este seja diferente do planejado. Porém, quando isto acontece (um parto natural que vira cesárea; o parto natural diferente do idealizado pela mulher e/ou casal; um parto muito rápido ou muito demorado; intervenções indicadas e decididas em conjunto com a mulher/casal; transferência de um parto domiciliar para o hospital por indicação da equipe, mas sem a concordância da mulher/casal, entre outros), observamos que poucos casais abrem um espaço para pensar no imprevisível , que angústias ele pode trazer, como lidar com as frustrações, e quando se vêem diante de algo assim, do inesperado, o acontecimento central (que é o nascimento do bebê) acaba ficando secundário, pois o parto desejado não foi o possível.
Sabemos o quanto é duro quando não conseguimos realizar nossos sonhos, mas é importante que ao longo da gestação o casal possa se preparar para isso, conversando entre si e com a equipe, compartilhando medos e angústias, pois sabemos que ninguém detém o controle total de uma dada situação (muito menos de um parto) e na ânsia de ter um desejo realizado podem acabar se responsabilizando ou responsabilizando o outro sobre o “falso” insucesso. Precisamos considerar que o parto é um processo psicossomático o qual está sujeito a diversas interferências sobre as quais nem sempre temos total controle.
Por isto, é importante fazer todo o possível para a realização deste sonho tal como buscar informações, preparar-se física e emocionalmente e montar uma equipe de confiança. Mas, reforço, é preciso abrir espaço para o inesperado, pois a experiência de cada nascimento é única e mostra a cada um de nós que nada sai exatamente como planejamos, o que não quer dizer que é melhor ou pior, mas simplesmente diferente, única, assim como cada ser.
Claudia Bomfim Vila, psicóloga.