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Parto Humanizado

Nesta minha trajetória, no universo da maternidade ativa, tenho observado muito as pessoas utilizando a expressão “parto humanizado”. É claro que sou a favor desta experiência, e acredito que “humanizar” um evento tão simbólico e importante como o nascimento é o passo inicial e crucial para construirmos relações mais humanas de um modo geral: no trânsito, no ônibus, no metrô (às 7:00 da manhã principalmente, rsrsrs), com todos os seres vivos, etc. É só olharmos com atenção ao nosso redor para concluirmos o quanto o nosso mundo precisa se humanizar, não somente o parto mas todas as relações, especialmente no que diz respeito a saúde.

Ao contrário do que observamos na maioria das práticas biomédicas, nossa proposta é acolhedora e visa oferecer uma assistência baseada em evidências científicas a fim de transformar o modelo vigente. É por meio de nossas práticas, ideias e estudos científicos que mostraremos que é possível fazer diferente, ou melhor, é preciso, já que a assistência ao parto no Brasil oferece riscos desnecessários para a mulher e para o bebê.

Atualmente, o percentual de cesáreas na saúde suplementar é de 84,6%, sendo que a Organização Mundial de Saúde (ANS) preconiza 15%. A cesariana agendada, quando não tem uma real indicação médica, na maior parte das vezes ocasiona um parto prematuro, uma vez que não é possível precisar a data exata da gestação. O parto prematuro, por sua vez, aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe: cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados a prematuridade (ANS).

Quando falamos em humanização do nascimento, também são necessárias ações das autoridades públicas no Brasil para a redução dessas altas taxas de cesarianas. A fim de diminuirmos o número de cesáreas eletivas, e conscientizarmos que sua indicação deve pautar-se em evidências reais.

Recentemente a Agência Nacional de Saúde lançou medidas para estimular o parto normal na saúde suplementar. Dentre essas medidas podemos citar: o direito de informação das beneficiárias; informação sobre percentuais de cesarianas por médico e estabelecimento de saúde; obrigatoriedade do cartão da gestante e carta de informação e a realização do partograma (Resolução normativa – rn nº 368, de 6 de janeiro de 2015).

Ainda assim, algumas medidas fazem-se urgentes como o incentivo dos órgãos públicos pela construção de novas casas de parto que ofereçam atendimento gratuito as gestantes, a adoção de política de admissão tardia da assistência ao primeiro estágio do parto e assistência adequada durante todo trabalho de parto, nascimento e no pós-parto.

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(Fonte: http://www.ans.gov.br)
Pesquisas de opinião mostram que ao longo do pré-natal a mulher tem preferência pelo parto normal, porém, continua crescendo o número de cesáreas no Brasil. Mas se elas querem o parto normal, por quê será que ao longo do caminho desistem? O que sabemos é que elas são desestimuladas pelo profissional de saúde que a acompanham no pré-natal a parirem seus bebês por parto normal.

Por esse motivo, acredito que somente é possível uma transformação se houver mudanças na formação oferecida nas escolas de medicina e enfermagem e no sistema de remuneração das organizações hospitalares (SUS e convênios médicos). Desconstruir os conceitos errôneos do academicismo que vigora (e que é baseado num conhecimento ultrapassado), nos achismos e exclusivamente na experiência pessoal, e substituí-los por conhecimento científico pautado em evidências de qualidade e reciclagem profissional.

É preciso desconstruir a generalização da ideia do parto como um evento patológico e excessivamente medicalizado, consequente da institucionalização do nascimento e da hegemonia adquirida pela medicina sobre o parto. O parto deixou de ser da esfera intima e familiar, quando assistido por parteiras, para se tornar um evento dominado pela medicina. Há de fato que se fazer uma assistência ao pré-natal de qualidade a fim de se rastrear os riscos e providenciar assistência médica adequada nos serviços de referência, não há dúvidas, porém o que assistimos hoje é um excesso e abuso do uso das tecnologias de saúde, com consequências iatrogênicas, aplicadas em gestações de baixo risco.

Quando pensamos em humanização, também não podemos ignorar o número de mulheres que morrem ou sofrem de morbidade decorrente da assistência à gravidez, ao parto e ao puerpério. O combate a esse quadro só é possível por meio da assistência adequada no pré-natal, rastreamento de risco, obstetricia baseada em evidências, profissionais qualificados no parto e cuidado no puerpério.

É necessário repensar também o local do parto, que precisa acontecer em um ambiente acolhedor e preparado para receber a mulher e seu acompanhante durante o trabalho de parto, como as salas PPPs (pré-parto, parto e pós-parto), ou um ambiente que garanta o mínimo de privacidade, onde a parturiente possa se movimentar e escolher posições que preferir e medidas de conforto e alívio da dor (bola, chuveiro, banheira, etc.). Deve-se garantir também apoio contínuo intraparto (acompanhante e doula se for do desejo da mulher e a não realização de episiotomia de rotina.

Para mulheres que tem uma gestação de baixo risco há que se ter a opção de um parto domiciliar e, se for o desejo da mulher/casal o acolhimento em casas de parto.

Acredito que estamos no caminho certo! Contribuindo para a mudança da assistência ao parto e ao nascimento no nosso país.

Fica a proposta para reflexão… aguardo as contribuições e opiniões!

Josi Campos é doula, consultora em aleitamento materno, instrutora de shantala e de carregadores de bebê e graduanda em Obstetrícia.

Fontes:
http://www.ans.gov.br/index2.php?option=com_legislacao&view=legislacao&task=TextoLei&format=raw&id=2892
http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/qualidade-da-saude/2923-entram-em-vigor-novas-regras-sobre-parto-na-saude-suplementar
Aula da Prof. Melania Amorim (IMIP – UFCG – ISEA – IPESQ) Brasília, 2014. Assistência Obstétrica Baseada em Evidências Científicas e a Prevenção da Morte Materna.

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