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O Brasil não apoia o parto normal – e pior ainda, finge apoio

Para que possamos fazer boas escolhas no parto, precisamos estar munidos de boa informação. Para isso, partir de um cenário mais macro é essencial. Macro quanto? Macro, macro mesmo:  o cenário obstétrico do País. Infelizmente vivemos em um País que não apoia o parto normal e, pior ainda, faz um falso discurso de apoio.

Muitas de nós crescemos acreditando que a cesárea será usada no nascimento apenas se necessário, que seremos respeitadas, que o médico (qualquer um) sabe das coisas. O problema é que esse modelo, diferente do nosso imaginário, não existe de maneira geral no nosso País.

Outras de nós, por sua vez, não se vê tendo um parto normal. Desde muito cedo (para algumas, até mesmo antes de pensar em engravidar) já se sabe que a cesárea será sua escolha. O que pouca gente reflete é sobre esse desejo, afinal, de onde ele vem? Do medo? Das vivências contadas nos almoços de domingo por nossas mães, primas e tias?

O parto normal é sim, muito malvisto (e pouco recomendado) pois dentro do cenário obstétrico do nosso País ele está relacionado à violência obstétrica. O problema é que essas violências não são identificadas pois muitas vezes são veladas: as mulheres as vivenciam e não tem consciência de que foram violentadas. Muitas vezes os casais são induzidos a tomarem decisões baseadas no medo, no cansaço

Tanto a mulher quanto a família que vivencia uma gestação e um parto estão em um momento de vulnerabilidade e, por terem sido criados dentro desse cenário (e nunca terem vivenciado uma situação assim antes) acreditam que o profissional médico sempre fará o melhor por eles. Infelizmente isso nem sempre acontece.

 

 

Seu médico acredita no parto normal?

Aqui na Commadre, somos ativistas da humanização no parto e do parto normal respeitoso. E o que isso quer dizer? Prezamos por uma assistência cuidadosa que faça diferença na vida das mulheres, das famílias e dos bebês que chegam à essa vida. Não demonizamos a cesárea, pelo contrário, temos plena certeza ela é excelente quando bem indicada. Mas, infelizmente, somos a exceção.

Vivemos em um País repleto de médicos e profissionais que não acreditam no parto normal, na importância de parir e que acham essa história de parto humanizado balela. São profissionais que não aprenderam a assistir parto respeitoso na universidade, mas sim partos normais cheios de intervenções.

A culpa desse cenário não é apenas do profissional, nem somente das instituições que os formam. O buraco é mais embaixo. Vivemos em uma sociedade machista que diz que o profissional médico (preferencialmente homem) é o detentor do saber, e a mulher gestante precisa fazer o que ele quer, sem considerar as escolhas, as vivências nem tão pouco as informações que aquela mulher/ família têm.

Quem, assim como nós, atua com parto humanizado, entende que a mulher tem direito de escolha  quando ela está munida de informações baseadas em evidências cientificas, quando conhece os riscos e os benefícios de cada decisão e pode, assim, decidir quais riscos está disposto a assumir. Sem informação (ou com informações duvidosas) não há escolha.

 

 

Cesárea NÃO É MAIS SEGURA que o parto normal

Somos o segundo País no mundo campeão de cesáreas, perdemos apenas para a República Dominicana. Nosso índice de mortalidade materna, no entanto, em 2021 foi de 107 mortes a cada 100 mil nascimentos. Em 2019, esse número era de 55,31 a cada 100 mil nascidos vivos!!! Um crescimento pra lá de preocupante.

Outro dado alarmante é o número de bebês prematuros no Brasil. Um bebê é prematuro quando nasce antes da 37ª semana de gestação. O país ocupa a 10ª colocação no ranking mundial dos países com mais nascimentos prematuros e tem na prematuridade a principal causa de mortalidade infantil antes dos cinco anos de idade. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Ministério da Saúde, 11,7% dos partos ocorrem antes do tempo, com cesáreas agendadas.

Além disso, se engana quem acredita que esse é um cenário apenas da rede pública. Mulheres não morrem apenas nos hospitais públicos, pelo contrário, elas morrem também na rede privada por intervenções e cirurgias desnecessárias, pré-eclâmpsias não identificadas no pré-natal e hemorragias.

 

 

SUS ou plano de saúde: qual o melhor?

Muita gente se pergunta qual local (SUS ou plano de saúde) oferece menos risco e mais chances de mulher e bebê terem um parto normal e humanizado. Vamos entender um pouquinho mais sobre os dois cenários?

O pré-natal no Sistema único de Saúde (SUS) está baseado em um protocolo ministerial, com médico e enfermeira, o que traz qualidade para a assistência. O gargalo aqui são os exames que, devido à quantidade de pessoas atendidas e o número reduzido de profissionais, as vezes as mulheres demoram para conseguir realizá-los dentro do prazo ideal. Aqui vale lembrar que esse cenário não se apresenta em todas as regiões, portanto, não é um padrão, mas é preciso ficar atento.

O convênio (assistência suplementar) infelizmente conta com profissionais médicos que não são bem remunerados, por isso vão trabalhar no volume para suprir a necessidade financeira deles. As consultas são centralizadas no médico que nem sempre está tão atualizado e nem disposto a discutir plano de parto, posições (…).

Uma das vantagens aqui é que existe a possibilidade do reembolso para o parto humanizado tanto para Obstetra quanto para Enfermeira particular (cheque junto ao seu plano de saúde se ele conta com essa possibilidade). Dessa forma, ao contrário do SUS e do plantão, você poderá escolher quem estará com você no dia do parto, dentro de um valor de parto normal humanizado que esteja de acordo com os seus recursos financeiros,

Independentemente do local do parto, recomendamos fortemente que você tenha uma Doula.

 

 

Não se chega duas vezes nesse mundo

A história vivida é única, não dá para refazer. Quando vamos preparar eventos para a nossa vida (festa, casamento, viagem) planejamos, não é mesmo? Já parou para pensar por que a nossa sociedade não planeja o parto? Se estamos aguardando a chegada do nosso filho nessa vida, que seja bem-feito, com os recursos que você tem disponível, mas com a certeza que fez o melhor que pôde,

 

 

Karina Fernandes Trevisan é sócia fundadora e uma das Parteiras da Commadre

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