Muitas gestantes que desejam parto normal têm essa dúvida: será que eu vou saber que estou em trabalho de parto? Quando eu devo ir para o hospital? A resposta à primeira pergunta é sim, você vai saber, confie! Quanto à segunda pergunta, é importante primeiro saber que o trabalho de parto tem duas fases: a fase latente e a ativa. O melhor momento para ir ao hospital é na fase ativa.
Como identificar as fases?
A conexão com o nosso corpo é muito importante e, para que essa conexão aconteça, é interessante se tocar, conhecer seu colo do útero, mesmo antes de estar grávida ou mesmo durante a gestação… todas essas percepções, além de trazer mais autoconhecimento, nos ajuda a entender o processo vivido no parto.
Na fase latente temos contrações não ritmadas, ou seja, que nem sempre tem a mesma duração entre uma e outra, não criam um ritmo. Essa costuma ser a fase mais longa do parto, porque essas contrações têm a função de trabalhar o colo, amolecer, deixá-lo favorável para que ele possa se abrir (dilatar) e o bebê passar.
É nessa fase (ou até antes dela) que muitas mulheres vão para o hospital, porém chegar no hospital nesse momento pode não ser o ideal, nem acontecer o que se espera. Explico. A mulher prepara a bolsa da maternidade, se arruma e se desloca com a expectativa de que vai internar e, muitas vezes, ao identificar que não é o momento dela ficar no hospital, porque ainda tem um longo caminho para esse parto acontecer, o profissional a examina e a manda de volta para casa. Esse “ainda não é a hora” gera todo um estresse, um medo, ansiedade… não apenas da mulher, mas de toda a família já que em seu entendimento a gestante e o bebê correm risco, e há o temor de que aconteça algo a ela ou ao bebê.
Se, por outro lado, essa mulher é internada – mesmo sem estar ainda em trabalho de parto ativo, a instituição fica na obrigação de fazer esse parto acontecer pois muitas vezes não tem espaço para manter muitas gestantes ali, internadas (isso acontece tanto em hospital público como privado), e é aí que acontecem diversas intervenções desnecessárias com ela (como exames de toque repetitivos, uso da ocitocina, além de urgenciar situações que talvez nem sejam urgentes).
Além disso, quando vamos para o hospital (ou qualquer outro evento “fora do comum” que vivenciamos), liberamos adrenalina. A adrenalina é a antagonista da ocitocina (hormônio da segunda fase do trabalho de parto). Esse ir e vir do hospital gera, portanto, muitos estímulos, fazendo com que o copo não passe pelo processo que ele precisa passar, com o descanso e a entrega necessária.
Agora, se a mulher espera mais um pouco em casa, as contrações vão evoluindo e ela chega na tão esperada fase ativa. Nessa fase as contrações são ritmadas e de uma intensidade média. Aqui, um aplicativo de contagem de contrações pode auxiliar muito. O melhor momento de ir para o hospital é quando as contrações estão de 3 em 3 minutos, com duração de 40 a 50 segundos cada contração.
Mas é seguro ficar em casa até esse momento?
É, desde que esteja sendo feita a avaliação da movimentação do bebê. Por isso, o ideal é ter uma profissional (Enfermeira Obstetra ou Obstetriz) que vá até sua casa fazer ausculta do coração do bebê, bem como uma avaliação geral. Uma profissional com experiência em acompanhar parto normal olha e entende a fase do trabalho de parto em que a mulher está e identifica o que precisa ser feito e qual o momento ideal para ir para o hospital.
Aqui na Commadre, todos os planos de atendimento ao parto, inclusive a assistência coletiva garantem a ida de uma Parteira até a casa da gestante para que seja feita essa avaliação.
E se a família quiser ir antes pro hospital?
Aqui na Commadre nossa conduta é ir conversando e fazendo acordos com a mulher/casal no pré natal para que possamos discutir e acordar juntos qual a fase do trabalho de parto a mulher deseja chegar no hospital. Se a mulher quer uma banheira, por exemplo, podemos ir para o hospital para que ela possa usar a de lá (caso possua).
Além disso, algumas famílias se sentem mais seguras em estar no ambiente hospitalar e, nesses casos, nós vamos antes sim, com o cuidado de promover ali um ambiente propício ao parto, sem intervenções que gerem adrenalina ou estresse. Lembrando que a Parteira pode ficar com ela no hospital desde que seja uma instituição privada). Ademais, chegar ao hospital com equipe externa faz tudo ser mais tranquilo, uma vez que a equipe auxilia no fluxo de protocolos do hospital, evitando intervenções desnecessárias desde a entrada.
Karina Fernandes Trevisan, Enfermeira Obstetra, Mestre e Doutora em Cuidados em Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
Foto: Flávia Jacob Fotografia
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