Quando já grávidas ou ainda tentantes, paramos para planejar a chegada dos nossos filhos, talvez não nos damos conta, mas já temos uma série de ideias na nossa cabeça em relação a o que é um parto e como ele deve ser. Isso porque em nosso imaginário habitam histórias contadas por familiares, experiências vividas por amigas, cenas de novelas, de séries, de filmes (…), relatos de parto que lemos ou vídeos de nascimentos que tenhamos assistido.
Daí, com todos esses ingredientes reunidos, criamos em nossa cabeça a ideia do parto ideal, às vezes até como um sonho mesmo. E quem sou eu para dizer que sonhar é algo errado, não é mesmo? Somos seres nutridos por nossos sonhos e pelo desejo de conquistarmos o melhor que pudermos para nós e para os nossos. E isso é muito bonito. E nos move, dando sentido à vida.
O que não podemos esquecer nesse processo é que o parto é um evento sem controle que, muitas vezes, nos faz ter que lidar com uma mudança de planos, talvez ainda na gestação (como uma pressão alta, uma diabetes, por exemplo) que muda o rumo do planejado; Ou ainda com diferentes cenários que podem ocorrer no parto, nos levando a caminhos distantes daqueles que havíamos imaginado para a experiência da chegada dos nossos filhos ao mundo.
Idealização gera frustração
Por mais maduros e conscientes que sejamos (ou que acreditamos ser) não podemos negar que toda idealização que não se concretiza pode gerar uma frustração. Afinal, somos seres humanos. E aqui o ponto para o qual precisamos nos atentar é quando percebemos que o parto idealizado se torna mais importante do que o bem estar da dupla mãe-bebê. É nesse ponto que mora o maior perigo da idealização.
O parto real raríssimas vezes sairá conforme o planejado. E aqui podemos falar tanto de um parto natural que vira cesárea ou até um parto no qual a mulher planejou usar a banheira, ouvir a playlist de músicas que preparou e de repente o nascimento ocorre tão rápido que ela não tem tempo de fazer todas as coisas que havia planejado.
Podem acontecer também intervenções necessárias no percurso: uma transferência de um parto domiciliar para o hospital por indicação da equipe, por exemplo. Ou ainda um parto hospitalar que acabou progredindo rápido e aconteceu em casa. Os cenários são vastos.
Vale lembrar que, quando digo que o parto é um evento imprevisível, não estou aqui defendendo seu não planejamento. Não é nada disso!. Já falamos AQUI sobre a importância de se planejar o parto. E já ensinamos também a elaborar o Plano de Parto. E, gente, isso é realmente muito, muito sério. Estou batendo na tecla da importância de se pensar (e interiorizar e conversar) sobre o imprevisível. Abra espaço para o imprevisível
E se o parto não sair conforme o planejado? Como vou lidar com as frustrações?
Sabemos o quanto é duro quando não conseguimos fazer as coisas da maneira que planejamos… mas é importante que ao longo da gestação, o casal possa conversar sobre isso entre si e com a equipe de parto, compartilhando medos e angústias.
Afinal, haverá culpados se as coisas não saírem exatamente como o que foi planejado? O que no parto poderia ser chamado de fracasso?? Será que existe, afinal, isso de fracassar no parto?
Ao planejar a chegada do seu filho ao mundo (seja o primeiro ou o quinto) busque informações, prepare-se (física e emocionalmente) e, se possível, monte uma equipe humanizada de confiança. E, como disse acima, abra espaço para o inesperado: a experiência de cada parto e de cada nascimento é única e a cada vez nos ensina que é justamente aí que reside sua maior riqueza: o parto mora no mistério.
Texto: Thais Rodrigues Bernardo, Enfermeira Obstetra e sócia da Commadre
Foto: Edward Eyer
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