Existe uma cobrança muito grande da sociedade para que a mulher volte ao seu corpo “normal” logo após o parto. Recebemos olhares e algumas vezes muitas falas preconceituosas e cheias de cobrança: nossa meta é acumular funções mas sempre se manter bela, organizada, feliz e o mais rápido possível, voltar a produzir por meio do nosso trabalho.
O que precisamos entender é que existe um processo muito complexo de transformações que acontecem no corpo pós parto, que começa desde o primeiro minuto após o nascimento do bebê e só vai terminar muitos meses (até anos) depois de nos tornarmos mães.
Mudanças fisiológicas no corpo
Logo após o parto (independente de ele ter sido normal ou cesárea) começa a acontecer a involução uterina, ou seja, o útero começa a contrair para retornar ao seu tamanho normal e evitar hemorragia nas primeiras horas e dias após o parto. O útero deve voltar ao tamanho até 40 dias após o parto (em torno de 1cm por dia). Nesse processo, acontece o sangramento da ferida placentária que vai aos poucos cicatrizando.
Junto com o retorno do útero, temos a transição das mamas que estavam ali, durante a gestação, produzindo colostro e nos primeiros dias (por volta do terceiro ao quinto dia pós parto) vão começar a produzir leite maduro. Isso vai causar um “bum” nas mamas, elas vão ficar quentes, grandes e pesadas, iniciando assim o início da fabricação do leite materno.
Nesse período vai acontecer também uma reorganização do volume sanguíneo dessa mulher: na gestação temos até 30% a mais do volume de sangue corporal e quando o bebê nasce esses fluidos corporais se alinham. Por conta disso, existem mulheres que não incham na gestação mas no pós parto observam inchaço, principalmente dos pés, já que a circulação de retorno das pernas e dos membros inferiores fica mais difícil.
Todos os órgãos aos poucos vão voltando aos seus lugares, inclusive as alças intestinais, o que pode causar constipação no pós parto.
Outra mudança esperada é na pele: a barriga estava ali super esticada com o bebê no forno, de repente ele sai e a pele fica flácida, pode ficar mais escura (devido ao acúmulo de pele) e ficamos com uma barriguinha ali parecida com que a tínhamos com umas 20 semanas de gestação – o que deve perdurar algumas semanas depois do parto.
Essas são as principais mudanças que você vai perceber nas primeiras semanas pós parto, período no qual o corpo está trabalhando para se reorganizar – agora sem o bebê ali dentro.
A vagina fica larga depois do parto normal?
Tanto a vagina quanto o períneo sofrem um estresse devido ao estiramento que ocorre para que a passagem do bebê aconteça. Esse processo pode fazer com que a musculatura (a pele, a mucosa) rompam, no que chamamos de laceração. Dependendo de como foi o parto, a mulher pode ter um pouco mais de sensibilidade, mais dor, uma cicatrização mais lenta, ou não. No entanto, mulheres que têm força de assoalho pélvico, um períneo mais forte, têm menos chance de sofrer lacerações e possivelmente terão uma recuperação muito mais tranquila.
Quando não há laceração ou quando ocorre de forma leve, a mulher sentirá apenas um pouco de ardor e uma certa sensibilidade na região no primeiro dia, quando for urinar no primeiro dia. Agora, se a laceração precisou de sutura deve demorar ali em torno de 10 a 30 dias para ter essa musculatura estar mais recuperada. Outra situação esperada logo após o parto é um pouco de incontinência e flatulência.
Agora, dizer que o parto normal “estragou o brinquedo” é uma fala muito misógina. Se nossa vagina é um brinquedo, ele é da mulher e não do marido, quem tem que ter prazer com ela é a mulher. E, respondendo à pergunta do título, trata-se de um mito que a vagina fica frouxa depois do parto, existem modificações sim mas tem mais a ver com a gestação e menos com a via de parto (normal ou cesárea).
Incontinência urinária é culpa do parto normal?
Questões que afetam o assoalho pélvico, como a incontinência urinária, tem mais relação com a gestação e menos com o parto. É muito comum mulheres que tiveram cesáreas desenvolverem também o quadro já que ele está mais relacionado ao peso que essa mulher ganhou ao longo da gestação e à força do assoalho. Além disso, quanto mais gestações seguidas ao longo da vida, mais fácil será essa mulher ter algum prejuízo nesta região.
O que precisamos entender é que o assoalho é formado por uma série de músculos que, assim como os demais músculos do nosso corpo, se não trabalharmos seu fortalecimento, ao longo dos anos, ele cairá, por isso é importante fazer fisioterapia pélvica na gestação e após o parto.
O corpo volta ao normal mais rápido para quem tem parto normal?
Costumo ouvir com bastante frequência no consultório que um dos motivos pela escolha do parto normal é que a recuperação é mais rápida. Para algumas mulheres, isso é uma verdade, mas não para todas. Existem mulheres que têm uma recuperação excelente na cesárea. Por mais que eu seja defensora do parto normal (tive dois, inclusive) , esse não deve ser um motivo para escolher a via de parto.
O que temos que levar em conta são os riscos envolvidos em um parto normal e na cesárea. No parto normal, não vou estar com vários órgãos mexidos, com o meu útero cortado, não se sofre as consequências de um pós cirúrgico onde, por mais que eu me sinta bem, tenho risco aumentado de trombose, de infecção, de complicações para futuras gestações.
A perda de peso no pós parto não está relacionada à via de parto, mas à genética, por isso tem mulheres que vão retornar ao seu peso mais rápido e outras não. Costuma-se perder peso amamentando? Sim, mas não é uma regra também.
3 cuidados na gestação que facilitarão o seu pós parto
Procure não ter um ganho de peso excessivo na gestação porque isso, além de impactar no surgimento de problemas como diabetes gestacional e hipertensão, no pós parto não é possível fazer dietas restritivas para mulheres que estão amamentando. Além de ser mais difícil retomar uma rotina de exercícios com o bebê pequeno.
Se possível, trabalhe o assoalho pélvico na gestação, isso ajudará a evitar as incontinências no pós parto e no futuro.
Cuide da pele com bastante hidratação (principalmente de dentro para fora com a ingestão de bastante água). Isso ajudará a evitar o aparecimento das estrias nos locais que esticam mais como a barriga, a mama, o culote. Manchas no rosto (os famosos melasmas) são comuns de parecer na gestação também, por isso é essencial usar filtro solar diariamente e evitar a exposição intensa ao sol.
Thais Rodrigues Bernardo, Enfermeira Obstetra e sócia da Commadre
Foto: lexander Krivitskiy
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