Como gosto de lembrar, não se pode convencer ninguém a ter um parto domiciliar planejado, o que posso é falar sobre os estudos que temos, à nível global, sobre a segurança do parto em casa. Também posso trazer os dados que temos em mais de 10 anos atendendo partos domiciliares na Commadre.
E, como tive minhas duas filhas em casa, posso falar das belezas que é parir no seu ninho, no espaço onde você vai lembrar da chegada do seu filho durante muitos anos e, claro, pode contar com a presença da sua família e dos filhos mais velhos.
Nós, que atuamos com parto humanizado, acreditamos que o parto é da mulher, um evento familiar e que por isso deve ser planejado, estudado e sonhado com muito amor e autoconhecimento para que seja o mais próximo possível do que se imagina. Afinal, colocar um filho no mundo é um evento único que só acontecerá uma única vez – independente de quantos filhos a mulher tenha, AQUELE filho só nascerá uma vez.
Pensando nisso, reuni aqui as 10 dúvidas mais comuns que costumamos receber no consultório e nas nossas redes, esperamos assim pode te ajudar a ter mais clareza nas suas escolhas:
1. Parto domiciliar é só para mulheres corajosas?
Optar por um parto domiciliar planejado não é um ato de coragem, é uma escolha consciente. Precisamos ter coragem apenas para enfrentar o sistema e a família já que ter filhos em em casa ainda não é um hábito cultural no Brasil, diferente de outros países como o Canadá e os Estados Unidos, por exemplo. Para se ter uma ideia, na Carolina do Norte as midwifes aprendem a atender parto domiciliar ainda na universidade, enquanto aqui no Brasil são pouquíssimos os cursos que oferecem essa formação.
2. Parto domiciliar não é perigoso?
No parto domiciliar planejado, a equipe Commadre leva três parteiras (Enfermeiras Obstetras e/ou Obstetrizes). São profissionais preparadas, munidas de muito conhecimento, de muito treinamento, com material na mala organizado para atender aquele único binômio mãe e bebê.
No hospital, muitas vezes, não se tem a mesma prontidão de atendimento e olhar clínico individulaizado se a mulher não tem uma equipe externa humanizada. Mesmo nos partos lisos (como chamamos os partos sem intercorrência que caminham conforme o esperado), a equipe do hospital está no cuidado de várias parturientes (e burocracias) diferentes, e isso limita a assistência. Sobre segurança no parto em casa, leia mais aqui.
3. Quem pode ter parto em casa?
Toda mulher com baixo risco gestacional pode parir em casa, ela só precisa ir para o hospital se realmente quiser. E como eu sei que sou baixo risco? Baixo risco é toda gestação com pré natal adequado (exames e consultas periódicas) e que não teve nenhuma alteração, nem com a mãe, nem com o bebê nesse período.
Durante o pré natal aqui na Commadre vamos conversando sobre todas as intercorrências que podem acontecer. Independente se a mulher e/ou casal planejam parto domiciliar, todos precisam estar conscientes de tudo o que pode acontecer no parto e o que esperar de cada fase.
Mesmo que a mulher planeje um parto domiciliar, se entrar em trabalho de parto prematuro (antes de 37 semanas) ou se não entrar em trabalho de parto até 42 semanas (mesmo com todas as tentativas de indução), ela será encaminhada para o hospital.
4. Meu(minha) companheiro(a) precisa estar nas consultas de pré-natal?
Independente do local em que o parto aconteça (em casa ou no hospital) recomendamos fortemente que o companheiro (a) se prepare também porque ele(a) influencia diretamente no andamento do parto. Imagina você ali, em trabalho de parto, empoderada, confiante, olha para o(a) seu(sua) companheiro (a) e ele(a) está morrendo de medo. Como será isso para você? Pela nossa experiência em mais de 10 anos atendendo partos, podemos afirmar: não dá certo, gente!!
O companheiro precisa ser essa pessoa de confiança que vai estar ali, do lado, que vai criar esse filho junto com você. O filho é do casal e o ideal é que esse casal esteja forte, sustentado, unido para passar pela gestação e pelo parto tomando decisões conscientes.
5. Quero ter parto em casa, mas meu marido não quer, e agora?
Parto em casa não pode ser uma decisão unilateral. Convide-o a assistir ao documentário O Renascimento do Parto. Se estiver em São Paulo, traga-o para uma consulta de pré-natal com a gente, aqui na Commadre. Se estiver em outra cidade, agende uma consulta online com a gente. É muito importante que seu(sua) companheiro(a) exponha seus medos e entenda seus motivos de querer um parto domiciliar planejado.
É bem interessante também participar de um curso de preparação para o parto, que tenha um viés humanizado. Não tem muito jeito, precisa estar munido de informação para que o parto domiciliar dê certo. Gostamos de dizer que quem planeja parto domiciliar, vira PHD em parto.
6. Meu Obstetra disse que parto é caixinha de surpresas por isso não recomenda parto em casa!
Quem diz que parto é caixinha de surpresa não sabe atender parto normal. É nossa obrigação saber todas as situações que podem acontecer no pré natal e no parto e informar as famílias com base em evidências científicas, nunca com base em achismos.
7. Precisa de ambulância na porta de casa?
Desde 2023 contamos com uma parceria de uma empresa que mantém uma ambulância na porta da casa durante todo o trabalho de parto domiciliar que atendemos. Fazemos isso porque parto em casa é perigoso? Não! O que acontece é que estamos em São Paulo e aqui o trânsito é absurdo. Se precisarmos de uma transferência é sim mais tranquilo fazer esse deslocamento de ambulância (mesmo que não seja uma emergência).
Com mais de 1240 partos acompnhados pela nossa equipe, com cerca de 360 domiciliares planejados, nossa taxa de transferência é de 12% (a taxa mundial é 20%). A título de curiosidade, a maior causa de transferência da nossa equipe é pedido de analgesia em trabalho de parto prolongado, ou seja, a mulher está cansada e pede para ir para o hospital para ter analgesia.
8. Em quais situações não é recomendado parto domiciliar?
Vou listar aqui as contraindicações de parto domiciliar:
- Prematuridade (antes das 37 semanas de gestação)
- Pós termo: gestação com mais de 42 semanas
- Mulher com mais de 2 cesáreas anteriores
- Bebê na posição pélvica
- Gestante de alto risco (pre eclampsia, colestase, trombofilian entre outras comorbidades)
Gestação gemelar
* no Brasil não tem recomendação de gemelar e pélvico nascerem em casa, nos EUA se atende
Lembre-se!!
Qualquer alteração que sinta com você ou o bebê, busque auxílio profissional. Aqui na Commadre as gestantes e casais contam com o número de WhatsApp das nossas Parteiras e Obstetras e podem sanar qualquer dúvida que possa surgir, especialmente na reta final da gestação, trazendo mais segurança para o tão esperado momento do parto.
Thais Rodrigues Bernardo, Enfermeira Obstetra e sócia da Commadre
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